domingo, junho 25, 2006

Não quero ver futebol!

Há uma vontade em mim
que se solta sem preconceito do mais fundo
subtil pérola de ar que emerge num lago escuro
hálito fresco desafogado
outrora suspiro em vão calado

sábado, junho 24, 2006

Embriagado de amor

Vieste quando eu pensava que não virias
Preparara-me para outros estares
Mas disseste que vinhas
E alterei os meus planos
Tão alegre e prontamente.

Entraste e o teu rosto alegrou o meu
Beijei-te muito
Beijos de boas vindas
Alegria pura e transbordante

És tão lindo
Tão lindo

Jantámos um bom jantar que ambos fizemos
Bebemos um bom vinho com uma cor antiga
Nem sei do que falámos
Quem sabe essas coisas...

Tinhas tido uma festa na véspera
“Estou tão ressacado!”
(Mais tarde contaste, pois tinhas que contar
Ainda estás naquela inocência em que tem que se contar tudo
À pessoa que se ama
Que foste para a cama nessa festa com a mulher com quem te partilho
E que não sabe que eu existo
E eu ri-me com gosto da aventura em torno disso)

Fomos ver filmes em DVD
Há tanto tempo que estávamos para os ver
O Sorrisos de uma Noite de Verão
Em celebração deste solstício que passamos juntos
E o Embriagado de Amor...

Os dois nus, lado a lado
Tocávamo-nos, beijávamo-nos
Quem está embriagado de amor
Ele e ela no filme
Ou eu, ou nós,
Tudo isto é tão perfeito

Dormiste tranquilo depois de nos termos
É tão intenso o que sinto contigo
Mas eu passei a noite como de costume
A murmurar, a chamar-te meu amor
E acordei-te com carícias
Tinhas que acordar, e não ligavas ao despertador
Que tocava o lago dos cisnes
Em versão electrónica...

E quando te foste embora
Tornei a cobrir de beijos a tua doce boca
E abracei-me a ti como num desespero
Não queria que fosses e tinha vontade de chorar
E dizia que isto é tão perfeito, tão perfeito
Nós nunca causaremos dor um ao outro
Juro que não
Juro que não.

terça-feira, junho 20, 2006

A lua cheia do fim da primavera

Deitados lado a lado, tu lês
Eu escrevo. Ontem, no terraço desta casa
Que demanda o rio como se fosse a ponte
De um navio, na lua cheia
Do fim da primavera falámos, bebemos
Fumámos... A lua girou de nascente para poente
E durante esse tempo fomos um.

Eu falo sempre de quando isto acabar
(E mostro o medo permanente de te perder)
Porque não quero esquecer nem um momento sequer
Nem um só beijo perdido ou a trémula
Passagem dos dedos pelo corpo extenso
Ou o deter dos lábios, os dedos curiosos
E ávidos como os lábios ou a língua
Ou o pénis dormente ainda
Ou impaciente por entrar pelo corpo.

Eu sou tu, tu és eu, digo comovido, já se sabe,
Não respondes nada, não são de ti protestos veementes de amor.
Mas os teus braços
Rodeiam-me e a tua boca devora a minha
E meigos os teus olhos sorriem com conhecimento.

Nestes dias conhecemos o paraíso, ou o que dizem
Que isso é: dias longos e lentos que correm
Como a água do rio e do ribeiro que nos banhou
Emoldurados como anjos por aloendros rosa, tantos
Tantos, meu deus, parecia intencional a festa
Nesse lado a lado à beira da água que espelhava o verde das árvores
Como se fosse seu.

Foi como se fôssemos imaginários
Como se fôssemos uma bucólica alegoria já fora de moda
Por não ter nada de escondido ou reservado
E a certeza de que o sol se iria pôr e ainda faríamos amor
Ao luar, no alto de um cerro ao lado de uma ermida
Fantasmagórica e isolada, como num casamento secreto.

Chove agora. É talvez o céu que chora. Mas não eu
E como me viste chorar várias vezes sabes que é sempre
Por ser quase insuportável na alegria o espartilho da certeza
De que tudo acaba. E no entanto sei agora que temerosa que ela seja
Nessa certeza há também o tempo que pára
E que ficará connosco para sempre: tu e eu
Mesmo que não mais deitados lado a lado.

sábado, junho 17, 2006

Cheia

Ardia a luz nas covas brancas
e tudo cá dentro palpitava
o fumo que me emudecera as cordas
tornara-me clarividente...
mas tu, bem diferente,
no embalar das tuas palavras
(cascatas explosivas de cartilha não lida)
puxaste a água há muito contida
que por um instante, de tão belo,
pensei não ser estanque o suficiente

a corrente abrandou, devagar
quando de novo a respirar
te senti quente no meu peito
Nessa noite empoleirados
nesse leito viscoso de lua
percorri-te lentamente
e soube de repente
que algo assim se consumou
e por fim se unificou
Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.