sexta-feira, agosto 25, 2006

...

Aturde-me a imprevisibilidade do tempo
e a cor do céu que ilude o crescimento do rebento
terra estéril e dura do ardor que sobre ela se abate perpétua
e o vento que o cobre que é fraco é de uma fé tua... não minha
porque o arco que descrevo é tão lento
que quando acabar o que escrevo não lembro
intenções ou razões... para a surpresa do tempo

quinta-feira, agosto 24, 2006

O muro

Tu fazes mares nos rios
que nascem ao contrário
e são feios e fazem marés nos cabelos
que são frios, quando gelos
derretem nas estantes e no tratamento vário que recebes
quando as lentes te queimam porque o sol é brando
mas os raios despertam e fazem sentir
e as vagens quentes nas noites que apertam a vontade que é grave
de ser-se arquitrave e não segurar ninguém... nem aqui!
nem além... há alguém que sustém a vontade!
e a idade é o muro que assim nos detém...

domingo, agosto 13, 2006

Real e Verdadeiro

O medo que sentes fez-me acordar
Para o que sou e para a grandeza de um amor
Com que nem me atrevia a sonhar.
Salvo estou já pelo que disseste
Quem pode querer força maior que a que
Ao vencer o teu medo, todo este tempo,
Singelamente me deste?

sábado, agosto 12, 2006

Não te minto

Cheguei perto o suficiente para saber
que o que sinto é puro e limpo e contudo
estou ciente que o caminho seguro se desviou
ficando aquém de qualquer escolha consciente.

Sei também que não há rolha forte o suficiente
para parar a corrente que me afoga no escuro
e quando o corpo se inquieta! já não sei
se o que sinto é descoberta ou alerta.

O que representas para mim está longe
da minha inútil compreensão, essa que se aperta
sem noção!... O que fica sempre e não foge
é o receio que se adensa em descontrole e sem freio

Sem rumo certo, não sei se te salvo ou me salve
ou nos salve!? porque o meu silêncio contém medo...
e quando o meu olhar se perde sobre o teu ombro
já sabes que é breve, mas tenso! repito, é Medo!

A incerteza que me prende tem data em Setembro
eu sei disso, tu sabes! e se este amor ou paixão
são bruxedo, certamente partirão com as aves
num regresso calmo até casa... sem dor!

Mas se isto que nos une for real e verdadeiro
quero que saibas! que mesmo na sombra do medo
estarei de volta em Fevereiro, p'ra sem as aves enfrentar
o que sinto! para te salvar?... não sei! não te minto...

sexta-feira, agosto 11, 2006

Salva-me

O telefone está ali – é só ligar, e contudo
É tão difícil... Não mo proibiste, eu sei mas também sei
Que isto, como tudo
Requer moderação....

Mas moderação, eu? Pois se o mundo me esmaga e empurra e
Me obriga... não sou eu não...
Sou quem, então?

Salva-me, tu que foste uma espécie de luz
No embrulhado nevoeiro em que me perdia
Sem mesmo perceber que perdido
É que seguia sei lá para onde...

Salva-me por favor, não quero pedir muito
Não quero fazer as tristes figuras de chorosas imagens
Suplicantes e agarrando-se aos joelhos de quem pode
Quais esculturas
(daquelas, um pouco feias, românticas, que adornam
cemitérios e praças de aldeias...)

Mas eu sei que só tu me podes salvar
Do que sou sem ti. Eu dizia, ah a minha liberdade...
Mas que é isso... liberdade de quê? De andar
Como um tonto de esquina em esquina
À procura do que já tenho... mesmo que saiba
Que se vai... Eu queria ao menos a dignidade
De sentir que não me perco... mas nem sei o que sinto
E por não saber sei que minto...

Mas sei que preciso, como um cego, que me dês
A segura mão. Que a tua voz acalme o rugido
Das tempestades no meu ouvido; que sejas,
Criança, garantia do porto seguro que demando
Eu que, velho, morrerei quando ainda fores flor
A desabrochar... Mas nem é nisso que estou a pensar
Nem na minha morte nem na tua vida
Mas sim em coisas tão simples como o teu sorriso
O tom da tua voz
A calma da tua pele
A ligeira ironia com que fazes esfumar
O denso drama em que insisto
Em me afogar.
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