tag:blogger.com,1999:blog-298563842024-03-13T10:50:26.567+00:00catamita"Catamite.1593. (ad. L. Catamitus, corrupt f. Ganymedes): A boy kept for unnatural purposes"
The Oxford Universal Dictionary Illustrated, 1968catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.comBlogger68125tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-84206692346983462332007-12-29T02:20:00.000+00:002007-12-29T02:21:41.738+00:00FechoSou eu quem tem de fechar este livro que começaste<br />Quando em ti havia o alegre querer de fazer comigo<br /> – não tudo<br />Não podia ser tudo.<br />Mas quase tudo, acredito e acreditaste<br />Se impregnava da alegria do que havia entre nós.<br />Isso acabou. É a natureza das coisas. Eu, quando acabar,<br />Quero ser cinzas. Mas que cinzas<br />Pode um blog deixar?<br /><br />E lerás algum dia isto? Ou cinzas são o olvido<br />De um grito nunca lido<br />Nas entranhas de um computador?<br /><br /><br />291207-0213catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com24tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-65295146479815261812007-12-29T02:17:00.000+00:002007-12-29T02:20:38.086+00:00ÚltimasHá cartas que custa meter no correio<br />Há palavras que custaram ser ditas<br />Rujo surdo numa dor que não quis conhecer<br />Não secam as lágrimas não<br /><br />Há mesmo morte e não acreditei<br />E agora a minha anunciada enche-me de pavor<br />E teres pena de mim... que desaforo, que não mereço<br />A lutar sem armas pelo teu amor<br />Que não se reacenderá<br /><br />Rujo surdo e choro na rua<br />É do frio já se sabe<br />Ou então mais um velho que chora<br /><br />Não está lá ninguém – nem bato à porta<br />Dos tais fieis amigos que há sempre nesta altura<br />Morrer é sozinho e ninguém conta como foi<br /><br />E está tudo certo assim é que é<br />O tempo certo mas sempre curto<br />Não sabia nada até agora<br />E o que sei tem por trás canções que me fingiram<br />Quando ainda até canções havia<br /><br />Mesmo a lua que foi cheia para nós está doente<br />Deitada torta à espera de se sumir<br />Fantasias, imagens como outras<br /><br />Doce olhas para mim e o beijo nos lábios<br />É adeus garantido uma vez mais<br />Eu devia fugir e não sei para onde<br />Perdido no meu espaço exacto e tão útil<br /><br />Só partir é a resposta mas não há sítio<br />Quando quem partiu foste tu que era a altura<br />Exílio agora é mesmo substantivo<br />E não mudança de estado<br /><br />Que farto estou dos lugares-comuns que fazem o choro<br />Que farto estou de ser friável e não granítico<br />Que pena tenho que a última oportunidade<br />De ser o homem que sonhei se desfaça<br />Nesta poeira talvez bíblica<br />Ao menos essa consolação – já o disseram<br />Sou pó e em pó me tornarei<br /><br />Amigos meus tiveram doenças solenes<br />Corações que pararam e que por sorte<br />Alguém reanimou. Passaram eles<br />Por este estalar insuportável? Dizem que não<br />Que de repente desmaiaram... Então <br />Serei eu um dos tais a quem nem esse dom é dado?<br />Que de um coração quebrado sem esperança de emenda<br />Tenha que viver com os restos desacertados?<br /><br />Eu jurei que nunca faríamos mal um ao outro, e jurei<br />Não és tu quem me faz mal<br />Sou eu que deste mal fiz tragédia<br />Não sei continuar<br />Ruje surda uma dor que nunca tive<br />Eu que nunca passei fome<br />Nem guerra<br />Nem perseguição<br /><br /><br /><br /><br />301107-0350catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-83352005600272177882007-10-09T01:37:00.000+01:002007-10-09T01:38:38.085+01:00RadarFaço o que posso, e estou-me a esforçar<br />às voltas com muros quintas e casais<br />tão importantes como os cavaleiros camponeses<br />do lago de Paladru – pois, reconhece-se a citação.<br />E por aí, talvez, o que quero dizer. “Conhece-se <br />a cantiga”... E na estação<br />de rádio que sintonizaste uma canta<br />“O amor faz-me morrer, o amor<br />faz-me viver”. Eu sei exactamente<br />A canção<br />que ela quer cantar.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-36733511757694631432007-08-22T03:40:00.000+01:002007-08-22T03:41:39.210+01:00Conversa de CaféNa mesa ao lado um homem fala<br />E não posso deixar de o ouvir: é forte<br />A sua voz. Ele diz, intenso,<br />Á mulher que o escuta, atenta<br />“Não sei se me ama ou não, ou quando<br />Deixará de me amar. Mas sei, isso sei, <br />Porque tudo mo tem provado,<br />Que é forte e bom o lugar que ocupo<br />Na sua vida e no seu coração.<br />E isso chega”. Inclina-se para trás<br />Empurrado pelo sopro do que proferiu.<br />Ela olha para ele com o doce sorriso<br />Da irmã, ou da filha, ou da filha-irmã,<br />Que é o que são as grandes amigas dos homens<br />Mais velhos. Pelo sorriso vejo que não é ela<br />O objecto da paixão que o anima.<br />Levanto-me e pago, levado<br />Por uma enevoada melancolia.<br />Naquele homem veemente <br />Há um quê que reconheço em mim.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-28978494626539682902007-07-29T04:17:00.001+01:002007-07-29T17:35:16.560+01:00AusênciaPassou-se tanto tempo. E não escrevi nada<br />Daquelas coisas que fizeram o cerne do que sou<br />Sabes, a inquietação, por exemplo... Mas ou<br />Estive longe e assustado ou acalmada<br />Foi a minha aflição. Por ti, pois por quem mais<br />Mesmo que no mesmo espaço caibam <br />Os outros que amamos, saibam ou não saibam<br />Do que nos liga.<br /><br />Para mim é a família, a próxima e a que o tempo alargou<br />Para ti os amigos<br />Eles, os que nos querem longe de perigos<br />Senão quando é com eles que se correm.<br />Perigos mais ou menos fáceis, já sabemos, <br />Não aqueles em que as pessoas morrem, <br />Quem aceita<br />A morte, heróica que seja, de quem queremos... <br /><br />Ai, estou perdido em palavras, é pelo absoluto<br />Ter que rimar à força. Mas quero lá saber de rimas<br />Ou métrica escorreita,<br />Quero é estar aqui contigo hoje como estivemos<br />Num ontem qualquer<br />Que nem é já impoluto...<br /><br />(tenho tanta pena... queria que fosse perfeita<br />a simples sequência dos dias, sem ter nada lamentado<br />sem nunca levantar a voz, ou ver-te zangado...)<br /><br />Que silêncio pesado o que está na minha alma!<br />E sei lá porquê... é por me lembrar <br />De heroísmos vistos em filmes que me causam <br />Esta ânsia... São tão nobres esses caracteres<br />Das séries de televisão... Fazem chorar...<br /><br />Tenho saudades, tens saudades, é tão bom saber<br />Que o meu amor não tem que ser desesperado, nem o teu<br />Que estamos longe mas calmos e seguros<br />A contar com um reencontro que não será longe.<br /><br />O nosso paraíso tem serpente e sabemos-lhe o nome.<br />Mas vivamos inocentes como se a pudéssemos domesticar<br />Como se nunca houvesse perigo do traiçoeiro bote<br />Como se por não a querermos ver ela deixasse de ser<br />Dêmos razão ao bispo Berkeley<br />Sou porque és e és porque sou<br />E fora de nós é cenário interactivo.<br /><br />O medo da morte rechaça o amor<br />Mas também, disseram-me agora mesmo e sabiamente,<br />Quando se ama a valer é inevitável o medo<br />Erosivo de se perder... Pois como se pode continuar <br />Sem o que é essencial, a água, o ar, o básico alimento<br />De que até os ascetas carecem. Pois água ar e alimento<br />É o que és, posso lá sequer pensar em juvenis anseios<br />De ser eu e eu e só eu e por mim haver mundo... eu não!<br />Para mim, é tão simples e tão claro, mesmo que lamente <br />O tempo que vivi e que foi tanto sem que existisses aqui<br />Mas és tu, és tu, e eu com tudo o que construí<br />Não valho nada, não sou nada, nunca fui antes <br />Nunca serei sequer coisa nenhuma<br />Senão por saber que estás aí<br /><br />(feliz como um passarinho, pois é, a imagem é pobre, <br />mas é assim que te vejo<br />a dar a todos os momentos em que aí estás e sem que te lembres sequer<br />o dom cósmico do sorriso<br />e de tudo o que dimana de ti por ele)<br /><br />Eu terei que ser grande, claro, e por isso vivo<br />Nem sei onde começa a grandeza senão na simplicidade das pequenas coisas que faço<br />O melhor que posso<br />Eu que não sou nada, serei grande<br />Por ir tentando ser tão grande quanto tu me fazes ser!<br />Eu construirei catedrais<br />Eu darei ordem ao mundo<br />E ninguém saberá que o demiurgo é apenas este homem<br />Que viu o sol nascer pouco antes de se pôr<br />Um coisa-nenhuma que se tornou ser pelo amor que lhe deste<br />E tanto tempo levou a acreditar! Tanto medo!<br /><br />Agora estás longe, amanhã estarás por ventura perto, depois de amanhã não sei,<br />Sei que vais estar longe de novo, isso sei e preparo-me para a ausência<br />Como dantes os que viam partir mareantes<br />Com medo da morte mas com esperança, só deus sabe... Senhora do Regresso<br />Fazei com que ele volte! Que o mar revolto afoga! Sem ter dó<br />De quem na praia espera!<br /><br />Que música conseguirei ouvir se não for a tua ou mesmo<br />A que tentei que por minha te pertencesse<br />Que lua poderia encher-se se não estivesses tu para a ver comigo cheia<br />Que histórias se poderiam contar se não estivesses lá para as ouvir<br /><br />A ausência faz este terrível pavor mesmo com tantos meios <br />De reduzir o silêncio<br />“tenho saudades de ti também”... e isso é bálsamo<br />Mas ter-te aqui<br />Oh meu deus, ter-te aqui<br />Ter-te aqui<br />Ter-te aqui<br />Ter-te aqui.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-11593624525357125732007-05-20T03:17:00.000+01:002007-05-20T03:59:08.601+01:00A festaVim agora da festa para que também foste convidado<br />Não sabia, mas eram os anos dele, vê lá tu, ele touro<br />E ela caranguejo... depois lembrei-me daquela noite<br />No restaurante em que se falou disso e eu senti <br />Que havia ali um segredo meu nessa cumplicidade oculta<br />De tu também seres touro e eu caranguejo...lembras-te?<br /><br />Quando cheguei um grupo tocava animado<br />Um homem e uma mulher ao piano, um rapaz na guitarra<br />E outro numa caixa de percussão <br />daquelas coisas electrónicas<br />que se podem tocar com as mãos como se fossem bongos ou com baquetas<br /><br />Depois a Di cantou blues,<br />Tem uma voz quente com o seu quê<br />A seguir veio outro para o piano, um branco que tinha um timbre especial<br />Um pouco rouco mas bem modulado<br />a cantar o Down and Out do Otis Redding<br />E que acompanhou uma mulher linda, no Summertime<br />e depois um negro que tocava muito bem composições suas,<br />jazz, um pouco como o Bill Evans,<br />e depois um angolano a cantar e tocar à guitarra, o Muxima<br />Não foi fantástico mas era sentido<br />A certa altura estava eu sentado bem lá atrás<br />A curtir mágoas indefiníveis e dores de barriga<br />Por causa da ressaca de ontem... e ouço uma vozinha<br />Cristalina, uma voz de criança? Mas a música era tão elaborada!<br />Aproximei-me e era mesmo uma menina<br />Uma negrinha com totós e não mais que sete ou oito anos de idade...<br /><br />Dançou-se muito, e bem, as mulheres então! Umas artistas! E não apenas<br />As negras! Que essas já se sabe...<br /><br />Chegou a vez de mais alguém mostrar os seus talentos<br />Veio um irlandês cantar uma balada daquelas<br /><br />E um saxofonista<br /><br />E uma rapariga que começou a tocar o Sodade e logo<br />Um outro africano veio cantar com ela<br />E cantou-se em coro o refrão...Saudade senti eu, que ao coro me juntei...<br /><br />E uma ruiva que recitou expressiva um poema sobre não ter medo<br /><br />Foi uma bela festa, pois foi, sempre alguém a tocar ou a cantar ou a tocar e cantar<br />E fazia-se o caminho para a comida e para o vinho a dançar<br /><br />Eu estive sempre um bocadinho aparte<br />A amiga com quem fui veio ter comigo e disse sentes a falta dele, não é?<br />Eu disse que não era isso, era apenas dores de barriga<br />Mas é verdade que não estavas lá tu, e era uma festa à tua medida<br />Havia lá um rapaz que se parecia contigo <br />Eu olhava para ele e pensava quem me dera que ele cá estivesse<br />Desta vez havia tanta gente da tua idade...<br /><br />Eu sei que aquela onde foste pelo teu lado não terá sido pior<br />Que te terás divertido imensamente nela<br />Ouvido a música de que gostas num ambiente que deve ter sido especial<br />Certamente dançaste até ficares exausto<br />Estou a ver-te no pavilhão do silêncio... entregue...<br />E nisso estou feliz. Mas não me queiras mal<br />Por não conseguir que sem ti haja festa a valer para mim.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-60275159838753982582007-03-28T20:36:00.001+01:002007-03-28T20:36:54.378+01:00DiárioMuitas vezes tenho sentido o que sem palavras me tens dito:<br />Falar do que se sente pode ser mentir, mesmo quando a vida nos ensina<br />Que falar de amor a quem se ama pode ser mais verdadeiro que calar<br />Porque no que se diz está o que os gestos não conseguem, nem o abraço<br />Apertado e fundo que quer passar além da pele e do corpo.<br /><br />No meu diário escrevo o que não ouso dizer-te, as dores que sinto quando morde<br />O medo do que sou e do que o tempo pode fazer ao que és. Ah, como dói prever que não<br />Te terei sempre mesmo que o meu sempre seja tão curto já! E temer essoutro que se esconde<br />Nas dobras do futuro ou se desenha claro a partir do esboço de um passado a que assisti<br />De tão perto quando estava tão longe na distância física! E que te poderia levar...<br /><br />Mas também lá escrevo as coisas do meu amor por ti que, porque ninguém lerá, não correm<br />Esse risco mortal de perder a verdade se pronunciadas... É aí que sei que posso<br />Murmurar-te à vontade as minhas adocicadas tolices ou gritar para que se ouça longe<br />Porque o que lá está e que é só para mim é igual, igualzinho tal e qual, não muda uma palavra<br />E sublime é o mais comum adjectivo, espontâneo, distraído, autêntico e sentido.<br /><br />E sei que, mesmo que digas “não me ames tanto” ou até o sintas sem mo dizer,<br />Porque a tua delicadeza não o consente, porque magoar não é parte de ti,<br />No fundo o meu amor te agrada e que as jaculatórias que numero para ser menos<br />Cansativas te enternecem. A cada passo, um gesto teu, um sorriso, um olhar,<br />Me fazem ser o rei do mundo, o príncipe inesperado de um grande amor.<br /><br />E sei que não o mereci, que me foi dado, como se eu, um soldado do pelotão<br />Tivesse sido aleatoriamente escolhido para zelador de um templo onde se oculta<br />Inacessível e sagrado o que faz viver um mundo, a fonte de toda a luz.<br />Eu que não valho nada, que nunca fui herói, nem sequer aluno aplicado, sou agora<br />O guardião dos deuses, com o prémio inesperado de ser, obscuro, o maior dos homens.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-33218847606260974192007-03-18T19:49:00.001+00:002007-03-18T20:03:02.576+00:00Dead Combopedra... trago de cidra fria<br />preenchimento incompleto, percurso vago<br />e garganta vazia. sem regra nem traço.<br /><br />E eu estou cego; mas há luz por todo o lado.<br />Sentou-se sem pedirmos, a teu lado<br />O que é uma caricatura do passado.<br />Fiquei indeciso no dizer que não, não sou eu<br />Quem fala destas coisas; é a música<br />Que ressoa como nova; o céu<br />É este louco estroboscópio ligado.<br /><br />tenho o braço parado bem fundo<br />e é tão pouco o fumo que sobe<br />mas é com grado que o tempo rasga<br />as notas quebradas de um brado<br />riso insano o do homem que sabe<br />e bebe escorreito o vinho gelado.<br /><br />Que vinho é esse? Bebe-o o som desvairado<br />Ou o silêncio que diz o que <br />Por muito que fale não digo? Calado<br />É a música deles que narra. Quem és<br />O que ouves esta música? E porque<br />Sinto que nela tens um segredo <br />Não desvendado?<br /><br />onde se abriga a cadência do sonho?<br />que dúvida se dilui nesta melodia?<br />o caminho da certeza é uma troça<br />que obriga sem força a insistência<br />deste rito medonho, que se exclui<br />na incumbência obrigatória do dia...<br /><br />Tira fotos, disse, e tiraste. Fica <br />O momento inultrapassável de nós - <br />Quem sabe o que vem a seguir ... a voz<br />Deles é agora a nossa. A nossa é melhor<br />Se fôr calada. Como o som de rios<br />Que nunca chegam à foz. <br /><br />incompreensão transparente insegura<br />signos que vomito sem que a culpa<br />salte bruta na relva rente<br />letra que inaugura o poço da razão<br />que o erro da dupla ribalta <br />faz cócegas suaves no coração...<br /><br />Quem tem olhos que veja! Aguenta<br />Os ventos que dão violência! Sê <br />Seguro terreiro do fado que sustenta<br />A dor que não se vê. Ah! ser capaz de saír<br />Daqui e esquecer que a noite acaba<br />E o dia vai nascer... <br /><br />no improviso final que se faz círculo<br />a disposição confusa dos dedos<br />que são vínculo sabido crucial<br />na negociação do ângulo obtuso<br />saído do rasgão curioso<br />da fugida augusta do ser ruidoso<br /><br />Quem me dera não ser eu... quem me dera<br />Ser o sonho sustentado que é só teu<br />E não temer nunca o que se espera.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-66115748459044391272007-03-17T03:31:00.000+00:002007-03-17T03:32:25.078+00:00CidadeVoou, ainda agora, por aí, um momento, <br />Que, como tantos, bem o sei, não é para agarrar:<br />Como as palavras que digo sem pensar <br />É livre mas carregado de sentimento.<br /><br />Foi a lembrança da cidade que me fizeste ver<br />As saudades de ruas e praças enfiadas<br />No colar que se faz das rotinas acertadas<br />De ir e vir calmamente, sem correr...<br /><br />Aqui a cidade é grande e nela nos gastamos.<br />O metro é um escavar diário pró destino<br />Tanta gente e ninguém com o sol-menino<br />Que por trás de uma catedral levantamos<br /><br />Por ti espero, agora, paciente, hás-de chegar<br />E dirás que canseira! Tanto tempo que se passa<br />que podia ser tão nosso, a passear,<br />Eu e tu neste estado em que estamos, de graça...<br /><br />Mas esta cidade em que se perdem tantos<br />Que não são como nós, encantados<br />Também nos oferece pequenos recantos<br />Que somos descobridores nisso empenhados!<br /><br />E hei-de te mostrar o que amo nela, o que vi<br />Quando ainda estava prenhe, sem o saber, <br />Do que tinha gerado e guardado para ti<br />Que vieste para que eu ta desse a conhecer.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-78542209371980144032007-03-12T18:37:00.000+00:002007-03-12T18:39:01.043+00:00Retrato de famíliaÉ sábado à noite. A companhia que veio aqui<br />(E que foi agradável) já se foi. Tu estás, eu sei<br />Louco, numa festa!, na terra ancestral<br />Regressado dessa ausência que tanto me custou<br />Mesmo sabendo o bom que fora para ti.<br /><br />Mas ainda é cedo para me deitar; vagueio então<br />Por estes locais virtuais, recordações já, as fotos<br />Que te tirei, os poemas que te escrevi. E vou<br />(Olha que os meus sentimentos aí são nebulosos!)<br />Até ao blog que tu e os teus amigos fizeram<br />(Que li antes, perversamente, com pensamentos invejosos...)<br />Para estar uma vez mais no que era quando<br />Todos os dias temia que por eles te perdesses de mim.<br /><br />E há últimas imagens! Que não conhecia<br />E que são da tua despedida desses locais<br />Onde foste tão feliz! E até apareces, como tinha que ser!, <br />Num pequeno vídeo, feito estrela musical,<br />A extravasar o teu humor e a tua alegria!<br /><br />E sem perceber porquê sou eu quem está saudoso<br />Vem-me um soluço de nostalgia<br />E a zanga comigo mesmo por ter tido inveja,<br />Por ter sido ciumento, por ser odioso<br />O veneno posto na tua inocente harmonia.<br /><br />Talvez o que sinto agora seja redenção<br />Rir-me por te ver ali tão tolo a divertir-te assim<br />Entregue aos que te amaram como merecias<br />Pelo que foste para eles como és para mim<br />Lugares diferentes e o mesmo coração.<br /><br />E lamento ter sentido o que senti<br />Lamento não ter estado, aqui, sempre convosco<br />Nas imagens que mandaste, e, em vez, ter sido<br />Mordido pela corrupta inveja por não ser um deles e lá<br />Não estar. E tenho saudades como se fosses tu a tê-las<br />Comovo-me a imaginar a tua nostalgia<br />Ao ver o retrato de família e a nova estrela da música popular<br />Italiana... Quem me perdoará?catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-75981803289027061692007-03-11T16:51:00.000+00:002007-03-11T16:52:52.246+00:00Bem-vindo(Em honra da tarde de seis de Março de dois mil e sete)<br /><br />Bem vindo porque vieste; e o teu sorriso,<br />Ainda que misterioso, desmontou<br />Os meus pavores. Bem-vindo porque me deste,<br />Uma vez mais, o que tens de tranquilo. E eu,<br />Que sou este molho electrizado de nervos<br />E medo, acalmei. Ali, como se fossem novos,<br />Repetimos gestos antigos. E o meu choro não é<br />Já o do terror, mas o do reencontro, como quando<br />Os soldados vinham da guerra e quem os esperava<br />Não sabia sequer se ainda os reconhecia. Bem-vindo.<br /><br />O tempo é um grande escultor, dizia ela<br />Que sabia destas coisas – era velha – e contudo<br />Nela esteve sempre o olhar maravilhado pelo que pode ser<br />Um amor como este. Narrou-o. Mas também<br />Falou de separações inevitáveis quando o fado<br />Manda que o amor acabe. E isso foi sempre o que li<br />Com mais atenção. Mas não foi hoje que aconteceu. Bem-vindo.<br />Hoje foi dia de festa para mim, o atormentado,<br />Que, por desgostar de si, desconfiou. Mas agora e aqui<br />Iluminas, por ti só, a esperança que voltou.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-3848703162353085532007-02-17T02:42:00.000+00:002007-02-17T02:57:42.099+00:00DiscretoAbri: o que entrou era lixo, porcaria<br />Gente que pensa em contas no dia dia<br />E troça dos que amam sem pensar<br />É nosso o que é nosso e assim está bem<br />Arte é para os outros, mostrar<br />O que somos, seria para nós discretos<br />Uma forma de exemplificar: mas não é<br />Preciso que mostremos o que de delicado<br />Temos: eles não sabem e não querem.<br /><br />Mas nós somos mesmo assim, independentes<br />Do que dizem e pensam esses outros,<br />Doentes de si próprios e sem conhecer<br />O princípio do que nos rege. E de que nem sabemos<br />Os contornos certos. Mas está lá<br />Discreto e contido mesmo que digam<br />Que é sentimento ou coisa desprezível<br />Como o sentimento pode ser quando não certo.<br />Mas este é nosso e exacto. E guardado <br />Deverá ficar porque nosso se mantém<br />Mesmo que lá fora não haja lugar nem tempo<br />Como aquele que acabámos por sem saber<br />Inventar como nosso e firme nisso.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-49808478536916070552007-02-11T18:18:00.000+00:002007-02-11T18:18:16.613+00:00EpisódioVou-te contar: estou aqui, <br />Bem acompanhado, tenho que o admitir, <br />Há um passado que finalmente desmontámos<br />E neste momento preparamos o seu futuro<br />O do que me faz companhia, agora.<br /><br />Falamos com a calma dos anos sedimentados<br />De coisas bem práticas como a sua arte<br />E da música que ouvimos. E no entanto<br />É sobre brasas que estou. Daria tudo<br />Sacrificaria a estimulante companhia<br />E a conversa que tira de mim o que sei<br />Por uma coisa tão simples, tão simples,<br />Como uma mensagem no telemóvel,<br />Qualquer coisa que dissesse “também eu<br />Aqui, onde estou, e bem acompanhado,<br />Acho insuportável não ser contigo que estou”. Mas isso<br />Sou eu a desejar; e quando se deseja <br />Desta forma pungente e final, ele,<br />A companhia inteligente e simpática que é<br />Deixa de ser: é só em ti que penso. Mas<br />Olha! Que grande novidade! Afinal<br />É só em ti que penso, só ou acompanhado,<br />De dia, de noite, a dormir, acordado<br />E que posso fazer para resistir a isto...<br />Ou é amor que aceitas e retribuis ou então,<br />E nisso temo ter que ter cuidado,<br />Doença que me levará. Sem ti não há<br />Futuro ou presente, até mesmo o passado<br />Fica por ali, o tal que daria histórias<br />Para contar contínua e alegremente<br />Se fosses tu quem as ouvisse a meu lado.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-34577828094813487922007-02-11T18:16:00.000+00:002007-02-11T18:26:29.384+00:00InocênciaEle falou-me dos seus amores traídos e de<br />Como, por isso, confiar se tornou tão difícil.<br />Ah! respondi, como te compreendo! Também eu<br />Tenho tanta dificuldade em aceitar como tal<br />O que simples se apresenta! É que logo construo<br />Os instrumentos que me levam à tortura permanente...<br />Sim, diz ele, não telefonou nem respondeu logo<br />Às minhas mensagens... E eu desespero...É isso!<br /><br />Concordamos então que temos de reaprender<br />A inocência que os do passado nos fizeram perder<br />Para acreditar agora, para confiar, calmos<br />(Calmos?! E os dois rimos com amargo conhecimento)<br />Que quem nos ama agora não precisa de nos dizer<br />Como nós, que já sofremos, precisamos de ouvir:<br />Para sermos de novo inocentes tanto trabalho a fazer...<br /><br />Mas isso, digo eu, já não é inocência... Isso poderá ser<br />Quando muito sabedoria... E poderá a nossa ser<br />Suficiente para não destruir o que amamos? Ficamos<br />Calados. O limpa vidros do carro em que vamos marca<br />Monótono, o longo caminho que ainda há a percorrer<br />Companheiros de umas horas, cúmplices <br />De um pequeno e frágil íntimo momento.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-47587702612949515422007-02-11T18:15:00.001+00:002007-02-11T18:15:07.032+00:00SábadoHoje é Sábado e até tinha companhia<br />Para me dissipar pelos bares da cidade em álcoois mais caros<br />Do que acabo por tomar aqui, só,<br />Com um que, como eu, também sente<br />Que não é lá que se resolve o seu dia.<br />Afinal – nem ele és tu nem eu<br />Sou remédio para o que o destroçou.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-6750520102532571502007-02-11T18:14:00.000+00:002007-02-11T18:14:07.572+00:00The urge“The urge” disse ele, o homem<br />Que está ali agora e foi <br />O rapaz diáfano que fotografei<br />Há um quarto de século. “Qual é<br />A palavra em português?” Nem ele<br />Nem eu sabíamos – mas hoje<br />Vinte e cinco anos depois, ele compreendeu<br />O que me levou a fixar em imagens de celulóide<br />A sua efémera beleza.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-61454581556601478322007-02-11T18:12:00.000+00:002007-02-11T18:12:44.187+00:00LabíliaLabília chamam eles, os que conhecem<br />A terminologia,<br />A uma tal vontade de chorar.<br />E assim se torna clínica esta coisa simples<br />Que vem simplesmente de amar.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-7562636842572323062007-02-11T18:09:00.000+00:002007-02-11T18:10:50.720+00:00EspadaI<br />Não estamos em guerra!, dizes tu<br />Mas a guerra é que está aí à espreita<br />E escolhe os parceiros para o triste jogo que inventa<br />Ou então pior, joga à cabra cega: “quem perdeu<br />Morreu”.<br /><br />II <br />Se nos é pedido que desembainhemos<br />A espada que sonhámos fosse arado<br />Mal sucede por não fazê-lo ao que nos é dado:<br />Pessoas, bens, valores, que não defendemos.<br /><br />E é nisso que assenta a sabedoria<br />De esmagar, impiedoso, ressentimentos<br />Esses monstros venenosos que se escondem<br />Atentos, nos lugares designados para abrigar<br />A alegria.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-75837227836205061012007-02-08T04:15:00.000+00:002007-02-01T14:22:15.292+00:00OráculoLeio oráculos e sinais e não entendo<br />Há tempestades e mares a atravessar para o homem nobre: <br />Mas quem é superior ou inferior neste jogo? <br /><br />Nada percebo do que leio mas sei o que temo<br />E contudo não posso mais transformar em doméstico utensílio<br />A espada que tenho que brandir. A paz é a boa quando a guerra<br />Está vencida. Desventurado o que ficou com a espada na bainha<br />À espera do momento em que não seria requerida.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-87620415651144930562007-02-01T14:16:00.001+00:002007-02-01T14:22:15.347+00:00lhasapuxa as cordas vigoroso, genica!<br />que a mulher canta de dentro do túmulo<br />que canto harmonioso este que espevita<br />e até me faz reaver a fé, que cúmulo<br /><br />ressonância que trespassa a janela<br />invade o mundo e ninguém sabe o que é.<br />encanto? a vaidade ameaça a voz dela<br />enterrando, em vão, bem fundo o meu pé<br /><br />a força que me estaca contra o chão<br />do existir nos vales desta cidade<br />e no som penoso desta canção<br /><br />violência que me amarfa sem piedade<br />prazer doloroso! são minha fé...<br />é pena que a gente não sabe o que é!catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-1919818224807453342007-01-27T20:49:00.000+00:002007-01-27T20:50:07.669+00:00ForçaFosse eu vento para empurrar as velas que desdobras<br />Fosse eu ferramenta ou instrumento útil para construíres<br />Fosse eu água refrescante pr’o teu cansaço, ou noite <br />Tranquila onde adormecesses. Fosse eu o de que precisas<br />Agora! Mas não posso ser mais que isto onde estou:<br />A voz que te encoraja na distância e a fé que tenho no que és.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-41553852263111593582007-01-23T17:46:00.001+00:002007-01-23T17:46:44.061+00:00coadoalguém que arranje aquela ampulheta entupida,<br />deserto coado, esfinge que espreita<br />a infância perdida, tamanho cliché...<br />mas assim é, que posso eu fazer<br />se me sinto enrolado? a gente é que finge!catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-82860414966415916162007-01-22T23:57:00.001+00:002007-01-22T23:57:35.945+00:00apelofaz uma espécie de salto quando passa,<br />não sei se é alto mas parece fraco,<br />o interior da concavidade amassa<br />o gosto amargo da dor em que atraco<br /><br />a ressonância trespassa vazia<br />as camadas desta ânsia furtiva<br />quando a malha do novelo fazia<br />uma volta acidental e cativa<br /><br />no pescoço encarnado cresce um pêlo<br />enrolado, como cachos azedos<br />que no tempo limitado do apelo<br /><br />se desfazem num oceano de segredos,<br />que degredo! este estar sempre com medo<br />e sentir-se vencido desde cedo!catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-2307447107561272912007-01-19T14:40:00.000+00:002007-01-19T14:41:16.743+00:00noveloesgrimo cansado contra o tempo<br />ironias desenhadas que defino<br />como escasso resultado<br /><br />o que me assalta tão veloz<br />é o azul deste cansaço<br />força bruta que em si conta<br />esta voz que em mim faz troça<br />e assim solta a ponta grossa<br />do novelo à minha voltacatamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-29856384.post-1168878970263010152007-01-15T16:34:00.000+00:002007-01-15T16:36:10.263+00:00SerenidadePela curva da estrada espreito espraiadas<br />As ondas que curvaram o covo onde uma tarde<br />Nos abrigámos, ao sol, do vento salpicado de areia.<br /><br />Hoje o mar é chumbo azul e a espuma<br />De vagas sucessivas e paralelas uma zanga<br />Pelo tempo que está, o céu carregado, o vento frio.<br /><br />Em mim contudo nasceu um quente sol gerado<br />Por esse sol mais antigo que nos aqueceu<br />Dormentes, estendidos na areia, lado a lado.catamitahttp://www.blogger.com/profile/14237037954145848635noreply@blogger.com0