sábado, janeiro 27, 2007

Força

Fosse eu vento para empurrar as velas que desdobras
Fosse eu ferramenta ou instrumento útil para construíres
Fosse eu água refrescante pr’o teu cansaço, ou noite
Tranquila onde adormecesses. Fosse eu o de que precisas
Agora! Mas não posso ser mais que isto onde estou:
A voz que te encoraja na distância e a fé que tenho no que és.

terça-feira, janeiro 23, 2007

coado

alguém que arranje aquela ampulheta entupida,
deserto coado, esfinge que espreita
a infância perdida, tamanho cliché...
mas assim é, que posso eu fazer
se me sinto enrolado? a gente é que finge!

segunda-feira, janeiro 22, 2007

apelo

faz uma espécie de salto quando passa,
não sei se é alto mas parece fraco,
o interior da concavidade amassa
o gosto amargo da dor em que atraco

a ressonância trespassa vazia
as camadas desta ânsia furtiva
quando a malha do novelo fazia
uma volta acidental e cativa

no pescoço encarnado cresce um pêlo
enrolado, como cachos azedos
que no tempo limitado do apelo

se desfazem num oceano de segredos,
que degredo! este estar sempre com medo
e sentir-se vencido desde cedo!

sexta-feira, janeiro 19, 2007

novelo

esgrimo cansado contra o tempo
ironias desenhadas que defino
como escasso resultado

o que me assalta tão veloz
é o azul deste cansaço
força bruta que em si conta
esta voz que em mim faz troça
e assim solta a ponta grossa
do novelo à minha volta

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Serenidade

Pela curva da estrada espreito espraiadas
As ondas que curvaram o covo onde uma tarde
Nos abrigámos, ao sol, do vento salpicado de areia.

Hoje o mar é chumbo azul e a espuma
De vagas sucessivas e paralelas uma zanga
Pelo tempo que está, o céu carregado, o vento frio.

Em mim contudo nasceu um quente sol gerado
Por esse sol mais antigo que nos aqueceu
Dormentes, estendidos na areia, lado a lado.

Amarelo

Há algures aí
Uma chama amarela
Perdida e escondida
Num casco de pedra

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Feliz Ano Novo

São quarto da manhã: saiu agora
O último convidado desta noite. E
Logo a seguir toca o telefone: és tu.

E nisto, e no que me disseste, a minha festa
Ficou a tua; e a tua, a minha. A ligeira melancolia
Do cigarro fumado na marquise sozinho -
Com os outros mesmo ali, mas só contigo,
A imaginar-te na tua festa e eu aqui
Como tem que ser - desfez-se em fumo
Mais diáfano que o do cigarro.

Estás sob uma azinheira que respira
E pedes-me que respire com ela: e isso
Faço, sem me custar, é natural.

Contigo respiro perto ou longe
E o longe de hoje foi tão perto como pede
O meu sobressaltado coração. E dormirei
Com a roupa em que deixaste o toque
E o cheiro. E do lado da cama
Que se recorda do teu dormir. És um parvo
Dizes, pois sou, e respondo, tu também
Porque a distância não tem significado
E neste estarmos longe e perto estamos bem.

A luz, dizes, é azul e verde e amarela
Talvez como a que segue um outonal poente
Ou como a que quis pôr no que hoje pintei.

Talvez a lua não esteja cheia quando chegar
A hora de partires pro teu destino. Mas hoje
Ele encheu-se de nós e da melodia
Que surdamente cantamos enquanto toca
A música que te leva agora a ir dançar.
Por ti esta noite foi nossa – a primeira
Deste ano que começa. Feliz Ano Novo!

E enquanto danças dormirei tranquilo
Protegido pelo amor que me dás
Nas palavras que descrevem onde estás.
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