sexta-feira, agosto 11, 2006

Salva-me

O telefone está ali – é só ligar, e contudo
É tão difícil... Não mo proibiste, eu sei mas também sei
Que isto, como tudo
Requer moderação....

Mas moderação, eu? Pois se o mundo me esmaga e empurra e
Me obriga... não sou eu não...
Sou quem, então?

Salva-me, tu que foste uma espécie de luz
No embrulhado nevoeiro em que me perdia
Sem mesmo perceber que perdido
É que seguia sei lá para onde...

Salva-me por favor, não quero pedir muito
Não quero fazer as tristes figuras de chorosas imagens
Suplicantes e agarrando-se aos joelhos de quem pode
Quais esculturas
(daquelas, um pouco feias, românticas, que adornam
cemitérios e praças de aldeias...)

Mas eu sei que só tu me podes salvar
Do que sou sem ti. Eu dizia, ah a minha liberdade...
Mas que é isso... liberdade de quê? De andar
Como um tonto de esquina em esquina
À procura do que já tenho... mesmo que saiba
Que se vai... Eu queria ao menos a dignidade
De sentir que não me perco... mas nem sei o que sinto
E por não saber sei que minto...

Mas sei que preciso, como um cego, que me dês
A segura mão. Que a tua voz acalme o rugido
Das tempestades no meu ouvido; que sejas,
Criança, garantia do porto seguro que demando
Eu que, velho, morrerei quando ainda fores flor
A desabrochar... Mas nem é nisso que estou a pensar
Nem na minha morte nem na tua vida
Mas sim em coisas tão simples como o teu sorriso
O tom da tua voz
A calma da tua pele
A ligeira ironia com que fazes esfumar
O denso drama em que insisto
Em me afogar.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial

Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.