sábado, dezembro 02, 2006

Visita

"Gostei muito", disseste, ou "adorei"
Não me lembro bem do termo que empregaste
Mas sei que eu disse "também gostei"...

E que mais poderia dizer naquele lugar e
Naquela hora: as multidões da manhã a correr
Para o comboio – e pelo comboio seria
A nossa separação...

Cais 3 o teu, o meu cais 7 - ai essas estafadas
Analogias dos caminhos paralelos!
E ainda há pouco te acariciava docemente
Os cabelos, o corpo, ou dava a mão
Como se uma cama fosse um enorme campo
Onde tivéssemos medo de nos perder
Um do outro.

Que feliz fui... que feliz me fizeste...
Eu é que falo, eu sei, e falo demais
A percorrer veredas e a descansar em largos
Dessa cidade tão bonita que me fizeste descobrir
Horizontes inesperados no alto de escadarias
Ou mistérios desvendados ao virar de uma esquina
Coisas que toda a gente sabe e vêm nos guias turísticos
Que não nos demos ao trabalho de ler
Tudo era revelação.

E as pessoas apressadas sob a chuva miúda
Com coloridas sombrinhas
Enquanto as víamos abrigados pelo toldo
Que as enquadrava como num filme
Ou os amantes que se beijavam, que inveja!,
Como nós desejaríamos fazer, não fosse
Aquele carro estacionado ali mesmo
Com o condutor lá dentro...

O rio por todo o lado insistia
Em dar cenário ao que sentia
Reflexos de verdades ocultas
Monumentos que sem ele seriam frios.
E o teu sorriso o teu amor a ser o sol
Destes dias enevoados
Mas não fez mal que fossem assim, até foi romântico!

E ver-te jorrar
Com o rosto a traduzir o que palavras não dizem
Místicos êxtases e o conhecer verdadeiro
De uma entrega total.

...

São estas as coisas que se guardam
Nos secretos escaninhos da memória
Como as fotos que fiz de ti e que agora
Não quero ver porque ao vê-las só acontece
Lembrar - e quem és fica escondido
Fixado e rígido numa imagem
Não é o corpo, a voz, o sorriso
E a cadência dos passos que me acompanharam
Nas ruas dessa cidade
Que continuará a viver sem mim.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Mais uma vez me tocou fundo o que escreves. Como te disse uma vez, consegues por em palavras tudo aquilo que sinto, me move e me dói, talvez por estar a viver algo muito idêntico ao que também estás a viver. Há feridas que nunca saram, mas que o tempo faz doer menos. Desejo-te sentimentos de esperança no futuro.

13:50  

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