sexta-feira, outubro 13, 2006

Distancia

Um navio cego afoga-se lentamente
Num copo cheio de verde e transparente
Que seria mar se não fosse veneno.

Em torno olhos divertem-se distraídos
A morte dos navios deixa-os comovidos
E são suas as lágrimas em que eles se afogam.

É tudo tão pequeno e enorme, e contudo
Há homens que gemem no navio mudo
E os que fazem do silêncio o último grito.

O copo é do tamanho do mundo que me bebe
Esvaziado para o ventre ígneo que recebe
Astros, cósmicas malevolências e dores inúteis.

Cego partiu o navio à procura de porto
Cego ficou na mesquinha rota, morto,
Afogado na cor dos olhos que te viram.

Iludiu-se o timoneiro que queria encontrar
A rota que o levaria ao lado oposto do mar
Que mais não é que copo ou proveta.

Que nos bebam os deuses ou nos rejeitem
Ou criem ásperas marés com as lágrimas que deitem
Por olhos cruéis e curiosos que se divertem,

A rota tem que ser cumprida. O destino, feliz ou infeliz, final,
Nem conta. Mas sim, pelo caminho, a força do timoneiro
Que ignora o jogo dos deuses, soberano e inteiro.

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