domingo, dezembro 17, 2006

Doze vezes dezassete palavras

1
Ácido é o fruto da laranjeira verde
No Outono quis colhê-lo
Tarde contudo demais para lhe chegar

2
Caiu inocente a folha da inexistente faia
No meu chão de pedra adormecida
Ao acordar insomne esmaguei-a

3
Não sentem as sementes o medo
Da vida com que serão castigadas
É tão claro o deserto!

4
Murmurou-me um, calmo, “o som
Agitado que te trago é o verdadeiro”
No meu grito nem ouvi.

5
A lua surge quando os que sabem
A escutam. Eu
Só a sei ver ao ficar cheia.

6
O monge soprou uma nota só
E afastou-se. O imperador que o chamou
Ficou preso ao trono.

7
A noite é uma mortalha aberta
Mas eu não tenho sono
Que estranha música estou a ouvir!

8
As cegonhas voam para um destino
Que desconheço ignorando
Que a sua sombra me ensombrou os sonhos.

9
Há gente lá fora! Corre! O Fogo é dono seu!
Água é o que queria beber
Agora.

10
Os meus ossos e o meu sangue
Ficarão matéria escura ou cinza
Está um dia tão bonito!

11
Era verdade o que diziam. E eu era
Tão surdo então como sou ainda
Mas dormia melhor.

12
Se tivesse havido uma longilínea flor
Num delicado vaso, vivamente oferecida
Não deixaria de ser coisa morta.

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